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ANTONIO MACHADO
Bolsa cheia de Jinping pode reaver ânimo frustrado pelo fiasco da Seleção, mas a China joga duro
O fim da Copa repõe a difícil situação da economia entre os temas fundamentais das discussões eleitorais, além da atordoante derrota diante da Alemanha ter turvado o sucesso da organização do evento.
Estava tudo agendado para a presidente Dilma Rousseff abrir nesta terça-feira, em Fortaleza, a cúpula de dois dias dos Brics, ainda sob o efeito da taça conquistada no Maracanã no domingo. Pelos sortilégios do futebol, coube a argentinos ou alemães o privilégio.
Ao Brasil sobrou o papel mais protocolar de dono da casa tanto da Copa como da cúpula – este clube das grandes economias emergentes em que se destaca a China frente aos demais (Brasil, Rússia, Índia e, como membro convidado, África do Sul), reproduzindo o perfil de líder e liderados ocupado pelos EUA em outros fóruns multilaterais.
Dos Brics, afora eventuais manifestações para cutucar o governo de Barack Obama, aguarda-se o fechamento das tratativas para criar um banco de fomento comum aos cinco países da coalizão, provavelmente baseado em Xangai ou em Nova Délhi, e um fundo de reservas para socorrer o bloco (e outros emergentes) em crises cambiais. Trata-se do que Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional já fazem, mas com a sua governança e decisões controladas pelos EUA e Europa.
Os Brics, em tese, representam o mundo multipolar em ascensão, que tende a fazer sombra aos EUA como potência militar hegemônica desde o fim da União Soviética, além de desafiar o seu domínio econômico.
Em termos de orçamento militar, o dos EUA é bestial, e não tende a ser superado. No ranking do SIPRI, instituto sueco que acompanha tais gastos, os EUA despontam com um orçamento de US$ 618,7 bilhões em 2013 - equivalente ao desembolso total dos nove países seguintes da lista (Brasil vem em 10º, com gasto anual de US$ 36,2 bilhões).
A China também se destaca nesta listagem, depois de se tornar a 2ª maior economia do mundo (e já passou os EUA pelo critério do câmbio aferido pela paridade do poder de compra). Já é o maior produtor de manufaturados e o maior exportador do mundo, ambos respaldando seu orçamento militar, em 2013, de US$ 171,4 bilhões (2% do PIB, contra 3,8% dos EUA). Graças a tal desempenho, seu gasto militar cresce há cinco anos (+7,4% em 2013), enquanto recua nos EUA (-7,8%).
Nessas paradas, o futebol brasileiro era um fator distintivo. Era...
Do futebol aos negócios
Sem o simbolismo da hegemonia futebolista, o governo brasileiro se apresenta à China com os recursos que interessam ao presidente Xi Jinping, que sairá da cúpula dos Brics para uma visita oficial de dois dias. O Brasil é grande exportador de commodities, boa parte das quais compradas pelos chineses (minério de ferro, soja), e tem um mercado promissor para bens industriais - o forte do visitante.
Como não soaria bem negociar maior mercado para bens chineses no Brasil, dado o déficit de mais de US$ 100 bilhões no ano passado da balança comercial da indústria, Jinping vai propor financiamento de longo prazo e serviços de engenharia das firmas chinesas, sobretudo em concessões de transportes e na exploração do pré-sal. Duas entre as três grandes petroleiras chinesas já tem 20% do consórcio armado pela Petrobras para a exploração do campo de Libra.
Quintal das empreiteiras
Dinheiro grosso não falta a Jinping. A China tem US$ 4 trilhões de reservas de divisas. E o governo chinês faz do vasto capital ocioso uma espécie de chave para abrir mercados a suas empresas, sobretudo empreiteiras e fabricantes de máquinas e equipamentos para energia, logística e telecomunicações. Os bens de consumo, como eletrônicos e carros, ocupam outra prateleira entre as prioridades chinesas.
O que for assinado entre Dilma e Jinping vai ter de ser ratificado depois das eleições. As negociações até agora se revelam difíceis. Os chineses propõem associar-se a empreiteiras nacionais. Mas elas relutam a dividir seu quintal. A importação de mão-de-obra chinesa, condição para o custo baixo nas construções, é outro tema polêmico.
Sem “negócio da China”
Entre a agenda com Jinping e com os Brics - ambas exigindo jogo de cintura do Itamaraty para não melindrar os vizinhos (que hoje veem a China como parceiro estratégico) e, sobretudo, EUA -, Dilma pode achar razões para tentar injetar algum otimismo nas expectativas da economia. Até outubro não haverá outra chance igual a essa.
Acordos como o proposto pela China podem assegurar investimentos graúdos de longo prazo, servindo de contraponto ao viés cadente da economia em 2015, devido ao ajuste fiscal, das tarifas represadas e dos preços relativos da indústria, incluindo a taxa cambial. Não há é a possibilidade de uma coisa substituir a outra. Sem garantias de estabilidade econômica, não há “negócio da China” que fique de pé.
O ônus das más decisões
A correspondência ao flerte do dinheiro chinês expõe o quanto hoje as reformas modernizantes da economia fazem falta, além do ônus da opção pelo crescimento tocado a consumo. O plano de infraestrutura, lançado em 2007, prescindia de capital externo e até de concessões. No pré-sal, a Petrobras daria conta de tudo sozinha. Isso já era.
O que se tem é uma economia sem autonomia para praticar juros com cara civilizada, devido à dependência dos investidores em papéis da dívida pública, tanto quanto de hot money para cobrir o déficit das contas externas; sem margem fiscal para bancar programas típicos de Estado; com crédito contido pelo risco de inflação e inadimplência.
Neste cenário, o eventual capital chinês cobrará um preço elevado, e o nacional continuará rarefeito. Há um ciclo de desenvolvimento à vista, sim. Mas, antes, há trabalho duro à espera dos governantes.
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