Caroline Salazar no Twitter: www.twitter.com/aendoeeu
A dor é o principal sintoma de quem sofre com a endometriose, doença que se caracteriza pela presença de tecido semelhante ao endométrio fora do útero.
O endométrio é o tecido mais funcional do útero, ou seja, com estímulo hormonal do ovário aumenta a sua espessura e diferencia-se para receber o embrião. Caso não ocorra a gravidez, o endométrio descama formando assim a menstruação, e, desta forma, vão ocorrendo os ciclos menstruais.
Apesar de a doença provocar cerca de 40% a 50% da infertilidade feminina, a dor é o principal sintoma da doença. Cerca de 88% das mulheres sofrem com cólicas. Muitas delas incapacitantes. Além da cólica, dores durante e após o sexo, na lombar, nas pernas, ao evacuar e ao urinar, enxaqueca, também são alguns dos sintomas da doença.
Hoje vou falar sobre uma dor muito importante e pouco falada: a dispareunia, uma grave consequência da endometriose e que é ainda pouco divulgada.
Segundo jornalistas da área de saúde, eu fui a primeira mulher no Brasil a descrever essas dores e a falar tão abertamente sobre ela. Dispareunia?
Nooossa, o que significa isso? Eu também estranhei a primeira vez que ouvi essa palavra. Por isso, eu digo: é muito importante ser acompanhada por um ginecologista especializado.
Eu já sabia que tinha endometriose há pelo menos oito meses e já estava em tratamento quando ouvi a seguinte pergunta de um ginecologista especializado: "Você tem dor durante e após as relações sexuais?".
Confesso que achei um pouco estranha, mas a resposta foi automática: "Sim." A dispareunia nada mais é do que sentir dor durante e ou após o sexo. E digo: dói, mais dói, dói muito.
A dor é incapacitante. Além de muito intensa, é uma dor ardida, como se você tivesse uma ferida enorme em carne viva e jogasse a mistura de sal e limão. Mas ai você multiplica a dor dez mil, 100 mil vezes maior do que numa ferida, claro.
Além da dor, a dispareunia leva mulheres ao suicídio, pois muitas perdem seus parceiros, e consequentemente, a vontade de viver. Porém, a dor não começa assim com tudo.
No começo há apenas um desconforto, uma coisa estranha, e, quando a dor se intensifica ficamos sem vontade de fazer sexo. A dispareunia tem tratamento e, com ele, é possível voltar a ter uma vida sexual ativa e prazerosa.
Imediatamente, encaminharam-me à fisioterapia para que avaliassem o meu assoalho pélvico. Outra palavra esquisita.
O que é isso? O assoalho pélvico é toda a musculatura interna da vagina. Até então, não imaginava como a doença poderia ser perigosa. E nunca havia ligado a dor no sexo com a doença. Mal sabia o que me esperava. Na avaliação, o diagnóstico: dispareunia de profundidade, ou seja, a mais avançada das dispareunias.
Nesse estágio, toda a musculatura da vagina foi afetada. A partir daí, começou minha luta para difundir esta consequência. Vou escrever um artigo sobre o tratamento. Como o sexo ainda é tabu em nossa sociedade, apesar de sermos de um país bem sexual, existe também o preconceito da própria portadora, quanto a este tratamento.
A maioria das pessoas não sabe o que é endometriose, mas quando sabe o que é, falam apenas da infertilidade. Mas uma pergunta não sai da minha cabeça?: "Como podem pensar em filhos, se não dá para fazer o filho pela via natural?".
Esse artigo não é somente para as portadoras de endometriose, mas, principalmente, aos parceiros. Muitos não entendem e acabam forçando-as a fazerem sexo. Isso além de ser um estupro (a meu ver), piora ainda mais a situação da portadora. Já ouvi muitas histórias tristes, desde o marido que forçou a mulher ao sexo, até aquele que levou a amante para casa, só para mostrar a mulher como se faz sexo.
Ter um parceiro compreensivo é muito importante e faz toda diferença em nosso tratamento. Este tema ainda será discutido em outros artigos, mas digo: a dispareunia tem tratamento e é possível voltar a ter prazer.
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