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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Comunidade de Ayotzinapa busca respostas sobre paradeiro de estudantes mexicanos desaparecidos

UMA MATÉRIA  ESPECIAL DOS 43  JOVENS  DESAPARECIDOS NO MÉXICO, ATÉ QUANDO O  GOVERNO MEXICANOS  VAI CONTINUAR MENTINDO.
Alejandro Sánchez 
Há exatamente dois meses, desde que os desapareceram, no estado de Guerrero, outras 199 pessoas foram declaradas como não localizadas em todo o país. Em média, a cada 24 horas, 5,6 pessoas são dadas como desaparecidas, de acordo com dados oficiais divulgados pelo Registro Nacional de Dados de Pessoas Extraviadas ou Desaparecidas.

Os dados, atualizados na última semana, não trazem estatísticas de setembro, de forma que o número é ainda maior. Somente em Puebla, no sul do México, 68 pessoas foram declaradas como não localizadas entre 26 de setembro e 31 de outubro. Destas, 47 são mulheres e 21, homens. 41 deles são menores de idade e 27, adultos.
Guerrero, onde os 43 estudantes desapareceram, é o terceiro estado com maior número de desaparecidos: 13 no período de pouco mais de um mês.
Valas comuns
Além de evidenciar mundialmente o problema dos desaparecimentos no México, o caso dos 43 estudantes de Ayotzinapa trouxe à tona também o problema das valas comuns, onde são enterrados corpos não identificados.
Genoveba Sánchez Peralta é, talvez, a mulher mais infeliz do mundo neste momento: há algumas semanas, pouco depois de sepultar o marido, passou a procurar o filho, o estudante Israel Caballero Sánchez, 21 anos, desaparecido. Israel usava jeans e camiseta de cor clara na noite do dia 26 de setembro, em que policiais de Iguala atacaram a tiros o ônibus em que viajavam os alunos da Escola Normal Rural Raúl Isidoro Burgos, entregando ao menos 43 deles (incluindo Israel), em seguida, ao cartel Guerreros Unidos. Bom, isso é o que todos dizem, mas a verdade é que ninguém sabe do paradeiro dos estudantes ou quem os levou.
Os jovens iam à marcha do dia 2 de outubro na Cidade do México, em memória do assassinato dos estudantes em Tlatelolco em 1968. A manifestação também lembraria dois companheiros assassinados pela polícia na estrada federal que vai até Acapulco, em dezembro de 2011, enquanto os alunos a bloqueavam para exigir que as autoridades aumentassem os recursos destinados à ração alimentícia diária por estudante, que não chegava a 35 pesos [cerca de R$ 6] para três refeições por dia.
A mãe de Israel caminha pela quadra de basquete da escola, em cujos muros foram içadas as bandeiras de todas as escolas normais rurais do país, em sinal de união e luta. Também estão pintados ali os rostos de Karl Marx, Friedrich Engels e Lênin, cujas ideias seguem vivas e fortes na região. "Podem nos faltar recursos, mas nunca nos faltará razão", lê-se em uma das paredes.
Cento e quarenta novos alunos ingressaram, no último mês de julho, na escola em Ayotzinapa, um povoado com 84 habitantes, segundo o censo de 2010. Conurbado com Tixtla, o vilarejo fica no alto de uma região montanhosa no centro do estado mexicano de Guerrero. Esta nova geração, uma das mais pobres entre as que passaram por estas salas de aula nos últimos anos, foi recebida pelos companheiros de níveis mais avançados com a seguinte saudação: "Bem-vindos ao que não tem início. Bem-vindos ao que não tem fim. Bem-vindos à luta eterna para melhorarmos dia após dia. Alguns a chamam de necessidade, mas nós a chamamos de esperança".

Entre os pais camponeses que se uniram para exigir do governo a localização dos filhos, Fernando é o de fala mais dura. Percorre toda a escola com os olhos e se detém em um ponto. A ausência parece tomar conta dele. Há pouco tempo passou por uma situação amarga. Viajou até Iguala, onde a polícia o colocou em uma caminhonete junto com outros pais para percorrer vários lugares em busca das supostas fossas onde podem estar enterrados os restos mortais dos 43 estudantes. "Eles nos trataram como marionetes. ‘Vamos para cá. Não, melhor irmos pra lá’", relembra. Há algumas semanas, esteve também na Cidade do México, a fim de se reunir com o subsecretário de Governo, Luis Miranda, que prometeu dar aos pais todo o apoio em busca do paradeiro de seus filhos. Fernando questiona também o papel da imprensa, que, em sua opinião, foi cúmplice do atual governo em sua tentativa de ocultar os atos violentos no país e o aumento no número de mortos, que já ultrapassou aquele registrado no período do presidente Felipe Calderón [2006-2012]. "Como as autoridades não sabem onde estão os rapazes, se ali mesmo em Iguala, para onde os levaram, está o 41º Batalhão de Infantaria?", indaga.

Comunidade de Ayotzinapa busca respostas sobre paradeiro de estudantes mexicanos desaparecidos

Moradores da região, famílias e alunos que ficaram na Escola Normal Rural Raúl Isidoro Burgos se unem em luto e revolta por desaparecimento dos 43 normalistas
Sapdiel Gómez Gutiérrez

Imagens da manifestação realizada no dia 8 de outubro na Cidade do México pelos estudantes normalistas desaparecidos
Genoveba Sánchez Peralta é, talvez, a mulher mais infeliz do mundo neste momento: há algumas semanas, pouco depois de sepultar o marido, passou a procurar o filho, o estudante Israel Caballero Sánchez, 21 anos, desaparecido. Israel usava jeans e camiseta de cor clara na noite do dia 26 de setembro, em que policiais de Iguala atacaram a tiros o ônibus em que viajavam os alunos da Escola Normal Rural Raúl Isidoro Burgos, entregando ao menos 43 deles (incluindo Israel), em seguida, ao cartel Guerreros Unidos. Bom, isso é o que todos dizem, mas a verdade é que ninguém sabe do paradeiro dos estudantes ou quem os levou.
Os jovens iam à marcha do dia 2 de outubro na Cidade do México, em memória do assassinato dos estudantes em Tlatelolco em 1968. A manifestação também lembraria dois companheiros assassinados pela polícia na estrada federal que vai até Acapulco, em dezembro de 2011, enquanto os alunos a bloqueavam para exigir que as autoridades aumentassem os recursos destinados à ração alimentícia diária por estudante, que não chegava a 35 pesos [cerca de R$ 6] para três refeições por dia.

A mãe de Israel caminha pela quadra de basquete da escola, em cujos muros foram içadas as bandeiras de todas as escolas normais rurais do país, em sinal de união e luta. Também estão pintados ali os rostos de Karl Marx, Friedrich Engels e Lênin, cujas ideias seguem vivas e fortes na região. "Podem nos faltar recursos, mas nunca nos faltará razão", lê-se em uma das paredes.
Cento e quarenta novos alunos ingressaram, no último mês de julho, na escola em Ayotzinapa, um povoado com 84 habitantes, segundo o censo de 2010. Conurbado com Tixtla, o vilarejo fica no alto de uma região montanhosa no centro do estado mexicano de Guerrero. Esta nova geração, uma das mais pobres entre as que passaram por estas salas de aula nos últimos anos, foi recebida pelos companheiros de níveis mais avançados com a seguinte saudação: "Bem-vindos ao que não tem início. Bem-vindos ao que não tem fim. Bem-vindos à luta eterna para melhorarmos dia após dia. Alguns a chamam de necessidade, mas nós a chamamos de esperança".

A formação na escola inclui o trabalho na horta e no jardim ou o cuidado do gado, além dos grupos de estudo noturnos em que os alunos de classes superiores estimulam os mais novos a analisar a situação em que vivem suas comunidades. As discussões costumam se prolongar até cerca de meia-noite. “Aqui todos trabalham duro. Devem cumprir com o trabalho dos professores, mas também com o do Comitê Executivo Estudantil (CEE). Neste esforço, são valorizados nossos ideais”, diz Víctor, aluno do segundo ano, que orienta os novos estudantes sem descuidar das aulas ou das leituras e debates em seu grupo de estudos.
O nível de participação política e consciência social que adquirem aqui é talvez um reflexo da pobreza e da miséria que assola as comunidades da serra ao redor de Ayotzinapa. Dificilmente outra escola de nível superior no país conseguiu se organizar e se envolver com a sociedade da mesma maneira. As 16 matérias abrangem várias atividades: imprensa e propaganda, higiene, primeiros socorros, transporte, difusão cultural, esportes, centro de informática, finanças, academia e COPI (Clube de Orientação Política e Ideológica). No COPI, “perguntamos que problemas detectam em suas comunidades. Eles nos contam. Sempre destacam os líderes locais, as humilhações por que passam seus pais camponeses”, explica Víctor. “É como compreendem, de baixo, aspectos maiores do panorama nacional.”


Entre os pais camponeses que se uniram para exigir do governo a localização dos filhos, Fernando é o de fala mais dura. Percorre toda a escola com os olhos e se detém em um ponto. A ausência parece tomar conta dele. Há pouco tempo passou por uma situação amarga. Viajou até Iguala, onde a polícia o colocou em uma caminhonete junto com outros pais para percorrer vários lugares em busca das supostas fossas onde podem estar enterrados os restos mortais dos 43 estudantes. "Eles nos trataram como marionetes. ‘Vamos para cá. Não, melhor irmos pra lá’", relembra. Há algumas semanas, esteve também na Cidade do México, a fim de se reunir com o subsecretário de Governo, Luis Miranda, que prometeu dar aos pais todo o apoio em busca do paradeiro de seus filhos. Fernando questiona também o papel da imprensa, que, em sua opinião, foi cúmplice do atual governo em sua tentativa de ocultar os atos violentos no país e o aumento no número de mortos, que já ultrapassou aquele registrado no período do presidente Felipe Calderón [2006-2012]. "Como as autoridades não sabem onde estão os rapazes, se ali mesmo em Iguala, para onde os levaram, está o 41º Batalhão de Infantaria?", indaga.

Na zona da escola conhecida como "cavernas do Corredor G", Bernardo foi o único ocupante do quarto número 4 que escapou do desaparecimento. É integrante do grupo musical da escola; naquele dia teve que ensaiar e, por isso, ficou limpando seu trompete. Na noite de 26 de setembro, antes da meia-noite, os líderes estudantis ligaram para a base para que todos se concentrassem na quadra de basquete. Deram a eles a notícia que paralisou a todos: "A polícia atacou nossos companheiros que estavam a caminho de Iguala". Um dos rapazes conseguiu ligar para a escola e contou que, quando tentavam sair do centro já com os dois ônibus que os trariam de volta, policiais os impediram, atravessando uma patrulha na estrada para cercá-los. Quando os estudantes desceram para tentar mover a viatura, começaram a receber tiros. "Israel Jacinto estava contando como estavam atacando. Escutamos pelo celular tiros que pareciam de escopetas, de revólveres; dava para escutar os barulhos das caminhonetes, gritos, golpes e vidros quebrando", relata Bernardo. O saldo: 43 desaparecidos, seis mortos.
jazbeck

"Quiseram nos enterrar, mas não sabiam que somos sementes"
Ernesto Pérez estaciona sua kombi em frente à quadra de basquete da escola. Carmen Hernández desce com pratos descartáveis, copos e uma bandeja de madeira. Ele pega dois panos de prato e os coloca sobre as alças de uma panela de aço de 30 litros cheias de pozole em ebulição, e a leva com dificuldade até uma mesa. “Vamos, sobrinhos, que vai esfriar”, grita Carmen, que tenta transmitir sua atitude positiva às famílias dos 43 desaparecidos.
A cena se repete de manhã, de tarde e de noite desde o ataque. Alguns levam café, feijões, pão, atole [bebida de milho tradicional no México]; outros levam chicharrón com molho verde, miudezas com caldo de tomate, picadinho, chá ou o que podem. Chegam também famílias com água e papel higiênico. Ficam um pouco, abraçam as pessoas e vão embora. A solidariedade dos povoados vizinhos e até mesmo a que chega de outros municípios é notória.



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