renato santos
15/10/2015
Peste negra é o nome pela qual ficou conhecida, durante a Baixa Idade Média, a pandemia de peste bubônica que assolou a Europa durante o século XIV e dizimou entre 25 e 75 milhões de pessoas (mais ou menos um terço da população europeia), sendo que alguns pesquisadores acreditam que o número mais próximo da realidade é de 75 milhões,aproximadamente metade da população da época.
A doença é causada pela bactéria Yersinia pestis,[5] transmitida ao ser humano através das pulgas (Xenopsylla cheopis) dos ratos-pretos (Rattus rattus) ou outros roedores.
Os surtos de peste bubônica têm origem em determinados focos geográficos onde a bactéria permanece de forma endêmica, como no sopé dos Himalaias e na região dos Grandes Lagos Africanos.
As restantes populações de roedores infectados hoje existentes terão sido apenas contaminadas em períodos históricos.
As populações de alguns roedores das pradarias vivem em altíssimos números em enormes conjuntos de galerias subterrâneas que comunicam umas com as outras. O número de indivíduos nestas comunidades permite à peste estabelecer-se porque, com o constante nascimento de crias, há sempre suficiente número de novos hóspedes de forma contínua para a sua manutenção endémica.
Naturalmente que as populações de ratos e de humanos nas (pequenas) cidades medievais nunca tiveram a massa crítica contínua de indivíduos susceptíveis para se manterem. Nessas comunidades de homens, a peste infecta todos os indivíduos susceptíveis até só restarem os mortos e os imunes. Só após uma nova geração não imune surgir e se tornar a maioria, pode a peste regressar. Nas comunidades humanas, portanto, a peste ataca em epidemias.
A condição inicial para o estabelecimento da peste foi a invasão da Europa pelo rato preto indiano Rattus rattus (hoje raro). O rato preto não trouxe a peste para a Europa, mas os seus hábitos mais domesticados e mais próximos das pessoas criaram condições para a rápida transmissão da doença. A sua substituição pelo Rattus norvegicus, cinzento e muito mais tímido, foi certamente importante no declínio das epidemias de peste na Europa a partir do século XVIII.
A peste foi quase certamente disseminada pelos mongóis, que criaram um império na estepe no final do século XIII. Gêngis Khan com as suas hordas de nômades mongóis conquistou toda a estepe da Eurásia setentrional, da Ucrânia até à Manchúria. Teriam sido os mongóis que, após a sua conquista da China, foram infectados na região a sul dos Himalaias pela peste, já que essa região alberga um dos mais antigos reservatórios de roedores infectados endemicamente.
Os guerreiros mongóis teriam infectado as populações de roedores das planícies da Eurásia, da Manchúria à Ucrânia, cujos reservatórios de roedores infectados endemicamente existem hoje.
Os ratos pretos das cidades e do campo da Europa ocidental não são suficientemente numerosos ou aglomerados em grandes comunidades para serem afectados endemicamente, e terão sido afectados pela epidemia do mesmo modo que as pessoas, morrendo em grandes quantidades até acabarem os indivíduos suscetíveis, ocorrendo nova epidemia quando surgia uma nova geração. Logo terão sido apenas os mediadores da infecção entre por um lado os mongóis e os roedores infectados da sua estepe, e os europeus.
Deste modo explica-se que, ao contrário de qualquer época precedente, a peste tenha surgido em quase todas as gerações na Europa após o século XIV: estava estabelecido um reservatório da infecção logo às suas portas, na Ucrânia (onde de fato foram as epidemias mais frequentes, até à última que aí se limitou). Também é por esta razão explicado o fato da peste ter atingido simultaneamente a Europa, a China e o Médio Oriente, já que as caravanas da Rota da Seda facilmente comunicaram a doença a estas regiões limítrofes da estepe. A peste melhorou as condições de trabalho
fonte BBC
Os Estados Unidos levaram o homem à Lua há quase 50 anos, mas americanos ainda morrem de uma doença que arrasou a Europa na Idade Média. Por que isso ocorre?
A chamada peste negra causou cerca de 50 milhões de mortes na África, Ásia e Europa no século 14. A epidemia dizimou metade da população europeia.
O último surto em Londres foi a Grande Praga de 1665, que matou um quinto dos moradores da cidade. Depois houve uma pandemia na China e na Índia no século 19, que ceifou mais de 12 milhões de vidas.
A doença, contudo, não ficou relegada ao porão da história. Ainda é endêmica (mantida sem necessidade de contaminação do exterior) em Madagascar, na República Democrática do Congo e no Peru. E o mais surpreendente é que ela ainda mata pessoas nos EUA.
Até o momento há registros de 15 casos no país em 2015, com quatro mortes - ante uma média de sete casos por ano neste século, segundo o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) do governo americano.
A bactéria responsável pela doença - Yersinia pestis - entrou nos EUA em 1900, por meio de barcos a vapor infestados de ratos, de acordo com Daniel Epstein, da Organização Mundial da Saúde (OMS).
"A praga era bastante presente (nos EUA), com epidemias em cidades portuárias da costa oeste. Mas o último surto urbano da praga foi em Los Angeles em 1925. Daí se espalhou por meio de ratos do campo, e assim se entrincheirou em partes do país", afirma Epstein.
Mais de 80% dos casos nos EUA são de peste bubônica, a forma mais comum da doença, que afeta os nódulos linfáticos e causa gangrena.
Há outros dois tipos, a séptica, que causa infecção no sangue, e a pneumônica, que afeta os pulmões.
A doença pode ser difícil de identificar em seus estágios iniciais, porque os sintomas, que normalmente se desenvolvem após sete dias, parecem com o de uma gripe comum - um teste de laboratório pode confirmar o diagnóstico.
A maioria dos casos ocorre no verão, quando as pessoas passam mais tempo em áreas externas.
"O conselho é se precaver contra mordidas de pulgas e não manusear carcaças de animais em áreas endêmicas da praga", diz Epstein.
Essas áreas nos EUA são os Estados do Novo México, Arizona, Califórnia e Colorado, segundo o CDC.
Todos os casos de 2015 no país foram registrados nesses Estados, ou outros Estados a oeste do meridiano 100, que divide o país no meio - Amesh Adalja, um especialista em doenças infecciosas da Universidade de Pittsburgh, refere-se a esse meridiano como a "linha da praga".
"O cão-da-pradaria (mamífero roedor) é o principal meio de transmissão da praga, e ele se concentra a oeste do meridiano 100", diz Adalja. A geografia e o clima do oeste dos EUA favorecem a presença desses roedores, e como eles são "animais sociais", acabam contribuindo na proliferação de pulgas infectadas.
O furão-do-pé-preto e o lince-do-Canadá são outras espécies suscetíveis, afirma Danielle Buttke, epidemiologista do Serviço Nacional de Parques dos EUA.
A existência desses "reservatórios animais" explica a dificuldade em erradicar a praga, afirmam especialistas.
A única doença humana erradicada até o momento, a varíola, não existe em animais. O mesmo ocorre com a poliomielite, que a OMS trabalha para erradicar, mas ainda é endêmica em três países - Nigéria, Afeganistão e Paquistão (e também na Síria desde a atual guerra civil).
"A não ser que exterminemos os roedores, (a praga) sempre vai estar por aí", afirma Epstein.
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Funcionários do setor de saúde pública tratam o solo no parque nacional Yosemite, nos EUA, para eliminar pulgas
Por outro lado, cientistas no Centro Nacional de Saúde da Vida Selvagem dos EUA vêm trabalhando com parques no desenvolvimento de vacinas orais para proteger furões-do-pé-preto e cães-da-pradaria - esses últimos parecem preferir iscas com sabor de manteiga de amendoim.
Uma vacina injetável para os furões também foi criada. Isso abre a possibilidade de eliminar a doença nesses animais, ao menos nos parques nacionais mais visitados dos EUA.
A pesquisa sobre a doença está em um estagio "vibrante", afirma Adalja, com cientistas trabalhando em diagnósticos e vacinas humanas efetivas.
Isso ocorre porque a praga foi classificada como uma "arma biológica categoria A", segundo o pesquisador. Uma média de sete casos por ano é uma coisa, mas o risco de uma guerra biológica, ainda que remoto, é algo bem diferente.
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Especialistas estão buscando eliminar as pulgas em furões e roedores em parques nacionais dos EUA
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