Se você foi jovem nos anos 2000, com certeza ainda sabe de cabeça a coreografia do single Ragatanga. A música, versão adaptada em português da canção The Ketchup Song, do grupo Las Ketchup, é só uma pequena amostra do impacto na indústria de música pop gerado pelo terremoto chamado Rouge. Formado em 2002, originalmente por Aline Wirley, Fantine Thó, Karin Hils, Li Martins e Luciana Andrade, o girl group brasileiro explodiu após as meninas se consagrarem vencedoras do reality musical Popstar. Selecionadas entre cerca de 30 mil candidatas, o Rouge chegou a lançar quatro álbuns e ultrapassar a marca de sete milhões de discos vendidos. Isso tudo até a última apresentação do grupo, em 2005.
Entre 2002 e 2005, as Spice Girls brasileiras trouxeram e implantaram no país influências da música pop ainda inéditas por aqui. O primeiro álbum, homônimo, e o segundo, C’est La Vie, brindaram os jovens brasileiros com hits como Não Dá Pra Resistir e Brilha La Luna. Os dois últimos álbuns, Blá Blá Blá e Mil e Uma Noites, foram feitos já sem Luciana, que resolveu sair do grupo por motivos pessoais. No fim de 2005, a Sony Music não renovou o contrato das quatro cantoras. Foi nesta época que o grupo subiu ao palco pela última vez carregando o nome do Rouge. Mas, e hoje, dez anos depois do fim, como estão as cinco meninas?
Mudança de hábito
A integrante que mais continua em destaque na mídia é Karin Hils. Em 2009, a cantora participou da versão brasileira do musical Hairspray. Desde então, esteve em mais cinco peças – a mais recente e atual é a adaptação nacional do clássico Mudança de Hábito, protagonizado por Karin. Na TV, ela atuou em programas como Pé na Cova e foi uma das personagens principais da série Sexo e as Negas, ambos da Rede Globo.

Karin em recente entrevista com Jô Soares, para falar da peça "Mudança de Hábitos". (Foto: Reprodução/ Instagram)
Karin em recente entrevista com Jô Soares, para falar da peça “Mudança de Hábito”. (Foto: Reprodução/ Instagram)
Por conta do papel em Mudança de HábitoKarin já recebeu até a benção de Whoopi Goldberg. E quando foi que ela se interessou em trabalhar com musicais? Foi justamente vendo outra ex-rouge, Li Martins (na época do Rouge, o nome artístico dela era Patrícia Lissah), no palco. “Eu já tinha assistido ChicagoRei Leão, mas não tinha me marcado. Quando eu fui assistir a uma peça da Patrícia, eu pensei: ‘uau, que maneiro’. Daí eu acabei fazendo amizades, conhecendo as pessoas desse meio, que é bem fechado. Comecei a me interessar, fiz um teste para Hairspray e passei. Foi minha primeira experiência com atuação e depois, graças a Deus, fui fazendo um musical atrás do outro”, conta Karin.
Li Martins começou a fazer musicais um pouco antes. Em 2007, participou da montagem de Miss Saigon;  em 2009, foi a Bela de A Bela e A Fera e na sequência esteve em trabalhos como Priscila: A Rainha do Deserto. Mas o foco dela não está só no teatro: nesse exato momento Li está em estúdio preparando seu futuro trabalho. Já na vida pessoal, em 2007 ela passou a namorar o também cantor Matheus Herriez, ex-integrante do grupo Br’oz (boy band masculina também formada no reality Popstar), e os dois subiram ao altar em 2009. A cerimônia teve como padrinhos as ex-companheiras do Rouge Aline Wirley e Karin Hils, além de Jhean Marcel, Oscar Tinel, Filipe Duarte e André Marinho, ex-Br’oz.
Li Martins junto de Matheus Herriez, hoje casados. (Foto: Reprodução/ Instagram)
Li Martins junto de Matheus Herriez, hoje casados. (Foto: Reprodução/ Instagram)
Sobre a participação em musicais, Li revela que foi algo que aconteceu meio sem querer e por intermédio de Matheus. “Eu tinha comentado com ele que havia visto o Fantasma da Ópera e que estava encantada, pensando em procurar algum curso e começar a me preparar para testes e audições pra musicais. Coincidentemente, ele recebeu um e-mail falando de audições, que precisavam de orientais, e me encaminhou. Eu me inscrevi, mas não imaginava que tinha alguma chance de ser chamada para os testes. Foi realmente uma surpresa”, lembra.
Apesar disso, Li revela que não foi um período fácil: foi preciso enfrentar o preconceito das pessoas por ter saído de um grupo de música pop. “As pessoas questionavam o meu potencial, e isso me abalou muito emocionalmente na época. Com toda essa responsabilidade de ser protagonista de um espetáculo como Miss Saigon, eu acabei adoecendo. Fiquei três semanas completamente sem voz. Mas os diretores americanos me deram muita força, e diziam o quanto tinham gostado da minha voz desde a primeira audição. Os diretores brasileiros também me ajudaram bastante, mas só comecei a me sentir mais segura depois da estreia, quando li as críticas, todas positivas, nas revistas e jornais de São Paulo”, conta.
Se no Rouge, as meninas foram unidas para realizar um trabalho pop mais voltado para o público teen, quem faz questão de lembrar que cada uma delas sempre teve um estilo preferencial na música é Aline Wirley. Formada em artes cênicas, ela também participou de musicais após o Rouge – inclusive, também esteve no elenco de Hairspray, assim como Karin. O mais recente trabalho dela nos palcos foi o aclamado Tim Maia – Vale Tudo. Mas o que mais chama atenção na carreira da artista é sua relação com o samba. Em 2009, chegou a lançar um disco chamado Saudade do Samba, inspirado em nomes como Chico Buarque.
Aline apresentando o projeto "Ritualística". (Foto: Reprodução/ Instagram)
Aline apresentando o projeto “Ritualística”. (Foto: Reprodução/ Instagram)
Atualmente, ela toca o projeto Ritualística ao mesmo tempo em que se dedica à maternidade. Antônio, filho de Aline com o ator global Igor Rickli, nasceu no ano passado. “Conheci o Igor fazendo o musical Hair, estamos juntos há cinco anos. O Antônio é muito musical, adora violão e um tamborzinho de brinquedo que demos para ele. Agora ele tem dez meses e, nesse tempo, consegui maturar ainda mais o Ritualística, o projeto musical da minha vida. O Rouge era um projeto formatado, pop e teen e, naquela época, eu estava bem na fase, com 20 aninhos. O Saudade do Samba foi uma fase de transição, onde eu estava me encontrando, me conhecendo. O Ritualística definitivamente me traduz nesse momento”, afirma.
De volta ao reality
Outra que teve desdobramentos curiosos no pós Rouge foi Fantine Thó. Em 2006, a cantora lançou a Banda Thó, junto do irmão, mas o projeto foi interrompido quando ela, grávida, resolveu ir para a Holanda com o então marido. Após um tempo se dedicado à filha, Fantine continuou fazendo shows até que voltou para o universo dos realitys musicais. Em setembro de 2013, ela fez uma audição para versão holandesa do The Voice e chegou até as seletivas do programa.

Sobre as duas experiências com realitys musicais em dois momentos distintos, Fantine confessa que se sentia mais amparada no Posptar do que no The Voice. “Na Holanda, eu fui fazer a audição sozinha. Quando me separei do pai da Cristine, pensei: ‘nossa, agora vou ter que me virar e aumentar meus cachês’. Eu estava fazendo shows em alguns pubs e precisava dar um upgrade no meu nome, já que estaria lá sozinha. Daí arrisquei o The Voice e fui chamada para participar. Eles ficaram encantados pela minha carreira, era algo que dava uma história maravilhosa para a televisão. Foi uma experiência incrível, mas faltou apoio, amigos e família. Faltaram raízes para sentir firmeza”, lembra Fantine.
Primeira a deixar o Rouge, Luciana se desligou do grupo ainda em 2004, após o segundo álbum. Ela lembra que a participação dela na banda aconteceu de forma quase inexplicável. Na época, faziam apenas seis meses que ela estava em São Paulo e foi inscrita para as seletivas do Popstar pelo empresário de um artista para o qual Luciana fazia backing vocal. Ela nem sabia do que se tratava exatamente o programa quando foi chamada: Luciana morava em uma república e não via televisão. Hoje, quase dez anos após o fim oficial do grupo, Luciana afirma que sente apenas gratidão por ter participado do Rouge.
Luciana em apresentação recente. (Foto: Reprodução/ Facebook/ Taís Kunert)
Luciana em apresentação recente. (Foto: Reprodução/ Facebook/ Taís Kunert)
Apesar de, em 2013, Luciana ter lançado alguns singles com a Lu Andrade e Banda, grupo de folk e pop rock que a cantora formou em 2012, ela afirma que não possui pretensões de tão cedo lançar algum disco.
Amizade verdadeira
No dia 13 de agosto, Fantine estava empolgada em reencontrar com a ex-colega de trabalho Karin. A primeira iria assistir o espetáculo Mudança de Hábito, estrelado pela segunda. Segundo Karin, há alguns anos as duas não se viam, mas quando se encontram é sempre uma experiência boa e elas acabam fazendo música juntas. Fantine conta que recentemente também havia conseguido visitar Aline no Rio e diz sentir que, hoje, todas elas encontram novos motivos para solidificar a amizade. “A gente não tem um contato muito frequente, mas quando se encontra é como se nunca tivéssemos nos separado. É como aquele grande amigo de infância, que quando se reencontra parece que a amizade continua do lugar que parou. A intimidade até aumentou hoje”, diz.

Fantine e Aline em encontro com os filhos. (Foto: Reprodução/ Instagram)
Fantine e Aline em encontro com os filhos. (Foto: Reprodução/ Instagram)
Fantine conta também que acredita que de todas, talvez Karin e Aline sejam as que têm mais contato hoje. Karin, aliás, não poupa elogios ao falar das ex-parceiras de Rouge. “A Aline é minha irmã. É muito bacana ver que ainda hoje elas vibram com meu sucesso e vice versa. Muitas pessoas pensam que o Rouge acabou por causa de brigas internas, mas não foi. É claro que havia pequenos problemas aqui e ali, eram quatro mulheres convivendo. Mas, no fim, o que prevalecia era o carinho e o respeito. Nós éramos cúmplices da mesma história, só a gente sabia o que estávamos passando. Nós nos unimos e isso foi uma coisa bacana que ficou”, se derrete Karin.
Amadurecimento pessoal e profissional
Atualmente, as cinco integrantes possuem uma cabeça muito diferente em relação há dez anos – Li é a mais nova do grupo, hoje com 31 anos, e Luciana, a mais velha das cinco, completa 37 em setembro. Para Luciana, se tem uma coisa que mudou nos últimos dez anos, foi a forma que ela enxergava o mercado. “Musicalmente, eu acho que estou mais madura. Eu vi muito mais coisa. Na época do Rouge eu era muito inocente, acreditava que as pessoas do mercado viam o artista como algo além de somente um produto. Eu acreditava que eles viam a alma do artista.”, diz.

Apesar disso, Luciana não deixa de encarar a passagem pelo grupo de forma positiva, inclusive musicalmente falando. “As pessoas lembram do meu trabalho, sabem que eu tenho uma estrada. O Rouge abriu minha cabeça para o que é a vida de um artista pop, para a ralação que é cada dia estar em um lugar, encontrar milhões de pessoas, trabalhar o tempo todo. Na época, eu coloquei todas as minhas influências de lado e, olhando hoje, o Rouge tinha baladas lindas que podiam ter arranjos folk. A diferença foi o tipo de produto que nós fomos, era algo que ia além da música. Mas eu adoro música pop, atinge muita gente. Hoje em dia tenho sentido essa vontade de cantar pop e eu adoro isso”, conta.
Fantine em apresentação no Brasil. (Foto: Reprodução/ Instagram)
Fantine em apresentação no Brasil. (Foto: Reprodução/ Instagram)
Fantine acredita ser outra pessoa hoje em dia e que isso se reflete bastante no trabalho dela. “Minha música tem aberto várias portas de uma forma pura, sem grandes produções. Eu não sabia dez anos atrás que o motivo pelo qual eu fazia música é a busca de uma conexão comigo mesma. Se antes eu ia atrás de grandes palcos, hoje eu sei que a maior aventura que eu busco é estar em contato com minha intuição e criatividade”, filosofa.
Karin lembra que o Rouge surgiu ainda em uma época em que as gravadoras estavam sentindo a transição das mídias físicas para o consumo na internet. “Eu acho que o Rouge conseguiu seguir paralelo a isso, o sucesso foi muito grande. Foi uma história real. Eu era uma menina comum que tinha um sonho e que estava correndo atrás dele. Tinha saído de casa fazia pouco mais de um ano e tinha ido tentar a carreira em São Paulo. Tudo aquilo que as pessoas viram na TV foi de verdade, não tem como não associar isso tudo a um sonho” diz.
Karin em cena com o musical "Mudança de Hábito". (Foto: Reprodução/ Instagram)
Karin em cena com o musical “Mudança de Hábito”. (Foto: Reprodução/ Instagram)
Sobre o lado pessoal, Karin brinca com as mudanças que dez anos causam nas pessoas. “Penso nas coisas muito mais do que pensava dez anos atrás, mas, fora isso, sou a mesma pessoa. Sou muito grata por ter a oportunidade de trabalhar com arte, de mostrar isso para as pessoas. Eu sou muito feliz hoje”, encerra.