No Brasil, Maria Corina critica Maduro e pede fim de 'indiferença' de Dilma
Deputada volta a pedir ação brasileira contra crise e diz que tempo de não agir já passou
BRASÍLIA - Recém-chegada ao Brasil, onde participará de uma audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado ainda na tarde desta quarta-feira, 2, a deputada venezuelana Maria Corina Machado criticou o presidente Nicolás Maduro e o presidente da Assembleia Nacional Diosdado Cabello por sua cassação. Ela voltou a pedir que o governo brasileiro não seja indiferente à crise venezuelana. Segundo a deputada, o tempo para a indiferença já passou.
A deputada opositora venezuelana Maria Corina Machado deve apresentar hoje na Comissão de Relações Exteriores do Senado sua visão sobre a crise política no país. Para a parlamentar cassada, o governo de Nicolás Maduro cruzou uma linha vermelha e se mostra debilitado e fragilizado.
Segundo María Corina, os governos democráticos da região, como o do Brasil, devem rever seu respaldo e solidariedade ao governo de Maduro. "A indiferença, nesse caso, significa cumplicidade", ressaltou em entrevista por telefone, minutos antes da decolagem do avião que a traria ao Brasil. A seguir, trechos da entrevista a GAZETA CENTRAL
GAZETA CENTRAL Quando a senhora foi cassada através do Judiciário de seu País, os guarda da GNB , impediram-na de chegar a ASSEMBLEIA NACIONAL, ontem, em breve resumo o que acontece na Venezuela ?
MARIA CORINA MACHADO : Com esses atos, o governo de Nicolás Maduro fez uma confissão de sua vocação ditatorial. O governo tomou a decisão de destituir um deputado eleito e, para tanto, valeu-se da ação do presidente da Assembleia Legislativa (Diosdado Cabello) e do aval apressado e sem respaldo constitucional do Tribunal Supremo de Justiça, que tentou pincelar um verniz de legalidade no que havia sido feito. Essa foi uma iniciativa absolutamente ditatorial, seguida por outras medidas inconstitucionais, como impedir o meu acesso ao Legislativo e reprimir cidadãos no exercício do direito de se manifestar publicamente. Tudo isso demonstra a enorme fragilidade e debilidade desse regime.
GAZETA CENTRAL O que a senhora espera dos políticos de oposição e dos aliados da presidente Dilma Rousseff dentro de fora do Congresso brasileiro?
MARIA CORINA MACHADO : Nós todos da oposição esperamos muito do povo brasileiro, que desenvolveu um espírito altamente democrático e que tem ciência do seu passado e do futuro em comum com os venezuelanos. Na verdade, tínhamos muitas expectativas do atual e do último governos do Brasil, que se frustraram. O Brasil espera ser um líder regional e, para isso, terá de demonstrar na prática coerência na defesa de princípios inalienáveis, como o respeito aos direitos humanos, que tem sido violado sistematicamente pelo governo da Venezuela.
GAZETA CENTRAL Como confirmar que esses abusos partiram do governo?
MARIA CORINA MACHADO Desde janeiro passado, Maduro cruzou uma linha vermelha. Seu governo passou a se valer das forças de segurança e de grupos paramilitares armados para torturar, prender e assassinar venezuelanos. A responsabilidade pelo engajamento desses grupos paramilitares é exclusivamente dele e de seu governo. Vou apresentar os dados e fatos aos senadores brasileiros. Esses fatos não podem ser ignorados por nenhum governo democrático da América do Sul. A indiferença, nesse caso, significa cumplicidade.
GAZETA CENTRAL Prefeitos e líderes opositores foram presos, a senhora foi cassada, as barricadas estudantis foram derrubadas e, ontem, os seus aliados não puderam seguir em marcha até a Assembleia. Quais os próximos passos da oposição na Venezuela?
MARIA CORINA MACHADO Temos de nos manter unidos e firmes nos protestos cidadãos. Temos de continuar a pressionar o governo de Maduro em favor de profundas reformas políticas. Ao mesmo tempo, vamos dar continuidade a um movimento de sensibilização internacional, para que os países hoje solidários e cúmplices desse regime reconheçam que o governo de Maduro ultrapassou a linha do que é aceitável e que não merece mais nenhum respaldo.
EM RESUMO A VOZ DO DESERTO
A deputada venezuelana María Corina Machado, cuja carreira no Parlamento foi arrebatada institucionalmente, fez uma exposição sobre a grave situação na Venezuela perante a Comissão de Política Externa do Senado brasileiro.
AGUERRIDA PARLAMENTAR
Onde o JORNAL GAZETA CENTRAL, acompanhou de perto na semana passada onde abordou a questão no Parlamento do Peru e antes disto na OEA - Organização dos Estados Americanos -, foi considerada "traição à pátria" por defender princípios democráticos.
Na ocasião ela pode expressar-se livremente diante do foro parlamentar de Brasília, expondo a grave situação que atravessa a Venezuela neste momento de crise e de colapso institucional e solicitar a solidariedade da diplomacia parlamentar na busca de soluções pacíficas para o atual confronto.
Venho aqui lembrando uma frase de Henry Kissinger, "para onde o Brasil se dirigir, o resto da América Latina se dirigirá" alguns países reconhecem o papel fundamental que o subcontinente sul-americano é chamado a cumprir no âmbito das relações hemisféricas.
Esta prioridade ficou evidenciada no âmbito das relações estratégicas entre Venezuela e Brasil tanto no campo bilateral como multilateral, quando ambos os Estados compartilhavam suas esperanças de democratização da América Latina e a construção de um sistema hemisférico de proteção dos direitos humanos, consolidadas pelos vínculos privilegiados entre os presidentes Caldera. Lusinchi, Herrera Campinse Carlos Andrés com seus homólogos José Sarney, Tancredo Neve, Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso, e que continuaram com Lula e Hugo Chávez, No caso de Maduro, esse sim travou tudo que tinha sido concordado com os demais inclusive Chavéz neste último após a sua morte, encerrou o que foi construído.
À medida que o sistema democrático venezuelano foi deteriorando o Parlamento brasileiro organizou uma série de sessões nas Comissões de Política Externa do Senado e da Câmara dos Deputados para conhecer a realidade e ouvir a posição de dirigentes como Leopoldo López, que se referiu à pena que o impediu de ocupar cargos públicos, uma decisão arbitrária tomada há alguns dias ;
Antonio Ledezma, para saber a opinião do prefeito metropolitano de Caracas sobre a aplicação da cláusula democrática no Mercosul; ou Marcel Granier em relação ao fechamento da RCTV, ou Ramon Guillermo Aveledo para indagar sobre as propostas do movimento democrático Unido.
A visita de Maria Corina foi crucial porque alguns membros que integram o governo de Dilma Rousseff, caso do senador Ricardo Ferraço do PMDB, que preside a Comissão de Política Externa, e também membros da oposição, como Fernando Henrique Cardoso, que assinou uma declaração de apoio com vários ex-mandatários latino-americanos, poderiam encorajar o chanceler Luiz Alberto Figueiredo assumir a tarefa de fomentar a confiança mútua graças ao papel de mediador que lhe foi atribuído pela Unasul com vistas a uma solução democrática. Em diversos parlamentos da América Latina, da Europa e de outras regiões, foram aprovadas resoluções em que foi expressada a preocupação com a crescente militarização, repressão e autoritarismo, além do descumprimento de compromissos econômicos.
É uma oportunidade para a deputada que se tornou a voz da oposição repudiar as medidas arbitrárias e inconstitucionais adotadas contra seu mandato parlamentar, denunciar a detenção injustificada de Leopoldo López e de prefeitos presos e condenar a repressão e as torturas desmedidas como resposta à explosão social pacífica dos indignados que têm se manifestado em massa desde 12 de fevereiro. A imprensa brasileira no caso GAZETA CENTRAL , tanto via facebook, como pelo blog , tem abordado a situação no país e as posições da corajosa parlamentar, cujas declarações provocaram represálias que deixam à mostra o perfil do governo de Maduro e que poderão ser ouvidas pelos diferentes setores brasileiros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
MUITO OBRIGADO ! SUAS CRITICAS, NOS AJUDAM A MELHORAR BLOG, SEUS COMENTÁRIOS SOBRE O ASSUNTO É IMPORTANTE PARA NÓS PARTICIPEM.