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quinta-feira, 19 de julho de 2018

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RENATO SANTOS  19/07/2018   O  caso  da menina VITÓRIA  GABRIELLY  levanta  outro  caso  que  ocorreu nos  anos 70, com uma  menina de  oito anos  que até  hoje  45  anos  depois  continua  sem  nenhuma  solução.  



No dia 18 de maio de 1973, uma sexta-feira, Araceli saiu de casa, no bairro de Fátima, na Serra, e foi para a Escola São Pedro, na Praia do Suá, em Vitória. No dia, a menina saiu da escola mais cedo, a pedido da mãe, Lola Cabrera Crespo.


Segundo a mulher, Araceli precisava sair antes da aula terminar, porque poderia perder o ônibus que a levaria de volta para casa.

G1 18/05/2015 . 

Após sair da escola, ela foi vista por um adolescente em um bar entre o cruzamento das avenidas Ferreira Coelho e César Hilal, em Vitória.

Ainda de acordo com esse adolescente, a menina não entrou no coletivo e ficou brincando com um gato no estabelecimento. Depois disso, Araceli não foi mais vista. À noite, o pai, Gabriel Sanchez Crespo, iniciou as buscas.

Corpo é encontrado
Dias após o desaparecimento, em 24 de maio, o corpo de uma criança foi encontrado desfigurado e em avançado estado de decomposição em uma mata atrás do Hospital Infantil, em Vitória.

Inicialmente, o pai de Araceli reconheceu o corpo como sendo da menina. No dia seguinte, ele negou, afirmando que o corpo não era o da filha desaparecida. Meses depois, após exames, foi constatado que o corpo era mesmo de Araceli.

Testemunhas e contradições
Durante as investigações, provas e depoimentos misturaram fatos com boatos. Mesmo 42 anos após o desaparecimento de Araceli, o assunto ainda é um mistério. Além de grande parte das testemunhas terem morrido, as que ainda estão vivas se recusam a falar do assunto.

Diante dos fatos apresentados pela denúncia do promotor Wolmar Bermudes, a Justiça chegou a três principais suspeitos: Dante de Barros Michelini (o Dantinho), Dante de Brito Michelini (pai de Dantinho) e Paulo Constanteen Helal – todos membros de tradicionais e influentes famílias do Espírito Santo.



A versão da morte da menina apresentada pela acusação, que mais tarde terminou no julgamento dos acusados, afirma que Araceli foi raptada por Paulo Helal, no bar que ficava entre os cruzamentos da rua Ferreira Coelho e César Hilal, após sair do colégio.

No mesmo dia, a menina teria sido levada para o então Bar Franciscano, na Praia de Camburi, que pertencia a Dante Michelini, onde foi estuprada e mantida em cárcere privado sob efeito de drogas.

Por causa do excesso de drogas, Araceli entrou em coma e foi levada para o hospital, onde já chegou morta. Segundo essa versão, Paulo Helal e Dantinho jogaram o corpo da menina em uma mata, atrás do Hospital Infantil, em Vitória.

Acusação
Em entrevista ao Globo Repórter de 1977, o promotor Wolmar Bermudes explicou a quem se destinavam as acusações.

"O Dante Michelini pai pesa a acusação de haver mantido a menor em cárcere privado, dois dias, no sótão do seu bar, em Camburi. Contra os dois, o Dante Filho e o Helal, pesam as acusações de haverem os dois ministrado a infeliz menor tóxicos e haverem ainda de maneira violenta mantido congresso carnal com a infeliz menina", disse na entrevista.

Ainda segundo a denúncia, Dante Michelini usou suas ligações e influência com a polícia capixaba para dificultar o trabalho da polícia. Além disso, testemunhas-chave do processo morreram durante as investigações. Nenhuma dessas acusações foi provada.

Durante o julgamento, Paulo Helal e Dantinho negaram conhecer Araceli ou qualquer outro membro da família Cabrera Crespo.

Julgamento
Em 1980, o juiz responsável pelo caso, Hilton Silly, definiu a sentença: Paulo Helal e Dantinho deveriam cumprir 18 anos de reclusão e o pagamento de uma multa de 18 mil cruzeiros. Dante Michelini foi condenado a 5 anos de reclusão.

Na ocasião, o juiz Hilton Silly disse em entrevista ao Jornal da Globo que os três foram condenados, porque foi provada a materialidade e a autoria do crime.

"Foi através não só da farta prova testemunhal, mas também, sobretudo, da prova indiciária, que é chamada prova artificial indireta por circustancial, baseado em indícios veementes, graves, sérios e em perfeita sintonia de causa e efeito com o fato principal", afirmou.

Os acusados recorreram da decisão e o caso voltou a ser investigado. O Tribunal de Justiça do Espírito Santo anulou a sentença, e o processo passou para o juiz Paulo Copolilo, que gastou cinco anos para estudar o processo.

Por fim, ele escreveu uma sentença de mais de 700 páginas que absolvia os acusados por falta de provas  Araceli Cabrera Sanchez Crespo – A menina de 8 anos foi sequestrada, violentada e brutalmente assassinada. O rapto aconteceu após Araceli sair da escola onde estudava, na Praia do Suá, em Vitória. Ela se tornou símbolo do combate à violência contra a criança e o  adolescente no Brasil.

Lola Cabrera Sanchez Crespo – Mãe de Araceli. Boliviana, veio para o Brasil já adulta, onde se casou com o espanhol Gabriel Sanchez Crespo. Após o desaparecimento da filha, Lola se separou do marido e voltou para Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, onde se casou novamente. Hoje, ela tem dois filhos e está viúva.

Antes de se casar novamente, Lola voltou para o Espírito Santo uma única vez, em dezembro de 1978. Na ocasião, ela foi presa suspeita de seviciar, abusar sexualmente e causar lesões corporais graves em uma menina de 13 anos, que ela havia trazido da Bolívia.

Gabriel Sanchez Crespo – Pai de Araceli, o espanhol trabalhava como eletricista em uma empresa que prestava serviços para Companhia Siderúrgica de Tubarão. Depois da morte da filha, Gabriel se separou da mulher e formou uma nova família. Ele morreu, mas deixou além do irmão de Araceli, outros dois filhos.

Luiz Carlos Cabrera Sanchez Crespo – Irmão mais velho de Araceli, tinha 13 anos quando a irmã morreu. Ele morou na Serra, no Espírito Santo, mas se casou e foi para o Canadá. Ele é o atual proprietário da casa da família, no bairro de Fátima, na Serra.

Paulo Constanteen Helal, Dante Brito Michelini (Dantinho) e Dante de Barros Michelini – Os três principais acusados da morte de Araceli. Os Michelini já estiveram entre os maiores proprietários de terra do estado, com interesse na indústria e no comércio. Os Helal estão entre os maiores comerciantes, com interesses na hotelaria e no ramo imobiliário.

Paulo e Dantinho continuam vivos e moram no Espírito Santo. Já Dante Michelini já faleceu. À época do crime, ele já tinha mais de 50 anos.

Uma das principais avenidas da capital do estado recebe o nome do pai de Dante e avô de Dantinho, Dante Michelini (1897-1965), em homenagem aos seus trabalhos no desenvolvimento econômico de Vitória.

O fato da avenida ter o nome relacionado à família de um dos acusados do crime já foi motivo de protesto na capital do Espírito Santo. Em 2013, quando o desaparecimento de Araceli completou 40 anos, um grupo se movimentou para mudar o nome da via para Araceli. Ao longo da avenida, os manifestantes colaram adesivos com o nome da menina em cima das placas de identificação da via.

Em 2011, Paulo Helal foi preso durante uma operação, suspeito de falsificar documentos entregues ao Departamento Estadual de Trânsito (Detran).

Nilson Sant'anna – Perito que estudou a causa da morte de Araceli. Ao Jornal Nacional, em 1977, Nilson explicou que a menina morreu após ser submetida a uma intoxicação por barbitúrico, medicamento usado como sedativo. Além disso, ficou evidente que a vítima sofreu traumatismos quando ainda estava viva. 

Hilton Silly – Juiz responsável pelo julgamento que condenou os principais acusados do crime.

Paulo Nicola Copolillo – Juiz que estudou o caso Araceli por cinco anos, depois do julgamento de Hilton Silly. Ele escreveu uma sentença de mais de 700 páginas e absolveu os acusados por falta de provas.

Ronaldo Monjardim – Tinha 15 anos quando encontrou o corpo de Araceli, em uma mata atrás do Hospital Infantil de Vitória. Quase 42 anos depois, ele voltou ao local a convite do G1 e se lembrou do momento em que encontrou o corpo. 

"Só tinha o corpo dela ali naquele local. Foi uma cena muito… Parece que eu estou vendo o momento em que eu encontrei ela, voltando aqui ao local", disse.

Carlos Cabrera Crespo, mas não obteve retorno. Segundo Aurélio Campos, um amigo da família que ainda mora na casa que pertence a Carlos, ele prefere não falar sobre o assunto.

Campos não autorizou a reportagem a entrar na casa onde morou Araceli, tampouco quis gravar entrevista. Ele afirmou que Dona Lola e Carlinhos estão "tentando seguir em frente" e por isso não costumam falar sobre o desaparecimento de Araceli.

A professora de Araceli, Marlene Stefanon, também foi procurada pela reportagem, mas não quis comentar o assunto. Segundo a filha de Marlene, a mãe não gosta de falar sobre a menina, porque tem medo.

Locais
Casa de Araceli – A construção sofreu pequenas reformas nos últimos 42 anos. O imóvel ainda pertence ao irmão de Araceli, que o recebeu de herança do pai. Desde meados de 1985, a rua, que antes era chamada Rua São Paulo, se tornou Rua Araceli Cabrera Crespo.

 Naesquina entre a Rua Ferreira Coelho e a Avenida César Helal, era o local onde Araceli foi vista pela última vez para pegar o coletivo que a levaria para casa. Atualmente, uma loja de cosméticos funciona no local.


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