ALTAMIRO SILVA JUNIOR -
FONTE : O ESTADO DE S. PAULO
09 Setembro 2015 | 19h 41
FONTE : O ESTADO DE S. PAULO
09 Setembro 2015 | 19h 41
Consultor-chefe da Allianz, Mohamed El-Erian avalia que a perda da classificação grau de investimento do País, pela S&P, vai estreitar a base de investidores interessados no mercado brasileiro.
O consultor-chefe da Allianz e ex-executivo-chefe da gestora de recursos Pimco, Mohamed El-Erian, um dos gurus de Wall Street, avalia que a perda da classificação grau de investimento vai estreitar a base de investidores interessados no mercado brasileiro, de acordo com rápido comentário a clientes logo após o Brasil ser rebaixado pela agência de classificação de risco Standard & Poor´s (S&P) no início desta noite.
"É mais uma notícia ruim para o País", disse El-Erian. Muitos investidores estrangeiros, sobretudo fundos de pensão, não aplicam seus recursos em países classificados no grau especulativo, ou "junk" (lixo, no jargão usado pelo mercado financeiro).
O pior cenário desenhado para a economia brasileira se tornou realidade. Nove dias após a presidente Dilma Rousseff enviar ao Congresso o projeto de Orçamento com déficit em 2016, a agência internacional de classificação de risco Standard & Poor’s retirou do Brasil o grau de investimento - uma espécie de selo de bom pagador que dá confiança aos investidores para aplicarem o dinheiro em um País. Ou seja, a decisão pode afastar ainda mais os investidores.
A Standard & Poor’s rebaixou o rating do Brasil de BBB- para BB+ e manteve a perspectiva negativa da nota. O País, porém, ainda mantém a nota de grau de investimento das agências Fitch e Moody’s.
"Os desafios políticos do Brasil continuam a aumentar, pesando sobre a capacidade e a vontade do governo em apresentar um orçamento para 2016 ao Congresso coerente com a correção política significativa sinalizada durante a primeira parte do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff", diz a agência.
O mercado já tinha colocado a possibilidade de rebaixamento nos preços dos ativos, mas os juros e o dólar devem abrir nesta quinta-feira em forte alta como reflexo da decisão.
A perda ocorreu sete anos depois de a mesma S&P ter colocado, pela primeira vez, o Brasil no seleto grupo de países com a nota de grau de investimento, depois de um trabalho de mais de uma década para o País conseguir esse feito.
Não foi fácil o Brasil chegar a esse nível, já que por muito tempo carregou o estigma de ter pedido moratória da dívida externa na década de 80.
Além da crise fiscal e falta de perspectiva de melhora das contas públicas, pesou na decisão da agência o quadro recessivo da economia.
Mas a crise política - sem sinais de melhora diante das declarações recentes de lideranças do Congresso - foi o ingrediente maior para o rebaixamento.
"Nós agora vemos menos convicção, dentro do gabinete da presidente, sobre a política fiscal", diz o comunicado. No fim de agosto, o governo enviou ao Congresso Nacional uma proposta orçamentária com previsão de déficit primário consolidado equivalente a 0,34% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem, em meio a um cenário recessivo e de dificuldades para aprovar medidas de ajuste fiscal.
Entenda. O rating, ou nota de crédito, é o resultado da avaliação de uma agência de classificação de risco sobre a qualidade de um título de dívida emitido por uma empresa ou país.
O rating indica, portanto, se o emissor é um bom ou mau pagador e quais as chances de acontecer um calote daquela dívida.
Um grande número de fundos de pensão, fundos de investimento e de carteiras de aplicação, por lei ou regulamentação específica, só pode aplicar em títulos seguros, que levam certificado de grau de investimento.
O rebaixamento dos títulos do Brasil implica forte redução de procura por eles, movimento que costuma ser antecipado pelos mercados.
Além disso, a redução do preço do título implica alta dos juros. Ou seja, o Tesouro terá de pagar mais pela sua dívida.
PIB. A S&P espera que a contração do econômica do Brasil seja mais profunda e longa e que o País enfrente dois anos consecutivos de retração do Produto Interno Bruto (PIB). Para 2015, a agência projeta que o PIB irá recuar 2,5%. Em 2016, a retração deve ser de 0,5%. A S&P acredita que o País somente voltará a crescer, ainda que modestamente, em 2017.
A agência disse ainda que as perspectivas de crescimento para o Brasil são inferiores às de países em um estágio semelhante de desenvolvimento, apesar dos esforços do governo com o ajuste fiscal e a aproximação dos setores produtivos.
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