RENATO SANTOS 10/04/2022 Deste o dia 24 de fevereiro venho tratando da Guerra que afeta não só a Ucrânia mas ao Brasil simultaneamente em todos os setores, e já afeta os preços nas redes de supermercado a máquina esta remarcando devagar por enquanto.
Os fertilizantes, ou adubos, são uma das partes vitais para o funcionamento da agricultura como conhecemos hoje. Essas substâncias são aplicadas no solo para providenciar os nutrientes necessários ao bom desenvolvimento de plantas, tornando-se então um aliado valioso aos produtores rurais que buscam aumentar a produtividade de suas lavouras.
A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal do Brasil no dia 6 de abril de 2022 recebeu o Encarregado de Negócios da Ucrânia no Brasil, Sr. Anatoliy Tkach, para obter informações sobre a guerra, que a Rússia lançou contra a Ucrânia. O Encarregado agradeceu a solidariedade do Senado brasileiro na defesa do cessar-fogo e afirmou que a Ucrânia nunca havia iniciado nem participado em nenhum conflito armado até 2014, quando a russia invadiu a Ucrânia.
A Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado recebeu, durante a semana de esforço concentrado da Casa, diplomatas de Rússia e Ucrânia para discutir o conflito entre os dois países. O embaixador da Rússia no Brasil, Alexey Kazimirovitch Labetskiy, esteve na CRE na terça-feira (5), enquanto o diplomata ucraniano Anatoliy Tkach esteve na comissão no dia seguinte, quarta-feira (6). O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, também foi à CRE, na quarta-feira, para tratar do conflito e sobre suas consequências (como o impacto sobre o fornecimento de fertilizantes da Rússia para o Brasil). A presidente da comissão, senadora Kátia Abreu (PP-TO), pediu o cessar-fogo imediato seguido de negociações pela paz.
Durante a audiência pública com o embaixador da Rússia no Brasil, nesta terça-feira (5), a presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), senadora Kátia Abreu (PP-TO), afirmou que o Brasil defende “cessar-fogo imediato na guerra na Ucrânia”. Por sua vez, o diplomata russo Alexey Kazimirovitch Labetskiy chamou a guerra de “operação especial no território da Ucrânia” e apresentou argumentos do governo russo sobre o conflito.
— A não suspensão imediata das hostilidades pode, a cada dia, aumentar o número de mortos em populações civis indefesas e aprofundar a grande crise humanitária decorrente do maior fluxo de refugiados em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial. (...) O Brasil tem marcado posição em defesa do cessar-fogo imediato e de negociações que conduzam a uma paz duradoura e sustentável — afirmou Kátia Abreu.
O diplomata disse que a crise na região começou em fevereiro de 2014, quando houve um golpe de estado na Ucrânia que derrubou o então governo eleito. Segundo ele, o golpe foi feito por “nacionalistas, direitistas e nazifascistas” ucranianos, com apoio de países do Ocidente.
Alexey afirmou também que, depois de 2014, regiões como Donetsk e Lugansk passaram a querer independência e assinaram acordos com a Ucrânia. Entretanto, ele disse que o governo ucraniano nunca respeitou esses tratados e passou a oprimir as populações das regiões separatistas.
Tumor nazista
De acordo com o embaixador russo, neofascistas e nacionalistas ucranianos “queimaram 50 pessoas em Odessa” em maio de 2014. Ele acusou grupos e batalhões vinculados a esses movimentos de usarem símbolos nazistas. E declarou que a Rússia apoia as populações desses territórios que proclamaram independência.
— Não podemos tolerar o surgimento de um tumor nazista na nossa fronteira. (...) O tumor nazista precisa ser aniquilado para sempre.
Alexey ressaltou que a Rússia é crítica da expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nas últimas décadas. Para ele, o alargamento da Otan é considerado uma ameaça para a Federação Russa.
O embaixador argumentou que a “operação especial na Ucrânia” foi iniciada “quando ficou claro” que a população russa que morava nas regiões separatistas “corria risco de vida”. Entretanto, ele elogiou as negociações de paz, que estão em andamento com reuniões diárias.
Nada justifica a guerra
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) destacou que o Brasil tem um histórico como país pacífico. Ele questionou o embaixador sobre supostos excessos cometidos pelo exército russo contra a população civil ucraniana.
— Nada que o senhor possa colocar aqui vai justificar uma vida que foi perdida lá — disse Marcos do Val ao condenar a guerra.
Comércio bilateral
O senador Zequinha Marinho (PL-PA) registrou que a Rússia é um importante parceiro comercial do Brasil. Ele citou o exemplo da venda de fertilizantes russos para a agricultura brasileira.
Zequinha pediu ao embaixador informações sobre os contratos de compra de nitrogênio e fertilizantes pelo Brasil frente às sanções internacionais contra o sistema econômico russo.
Alexey respondeu que o Brasil é o maior parceiro econômico da Federação Russa na América Latina. A Rússia exporta principalmente fertilizantes para o Brasil, que, por sua vez, vende àquele país produtos agroindustriais.
O embaixador afirmou que o governo russo deseja aumentar a cooperação entre ambas as nações e garantiu a continuidade do fornecimento de fertilizantes, mesmo com o bloqueio econômico enfrentado pela Rússia, que ele chamou de “sanções ilegítimas”.
— Queremos continuar fornecendo fertilizantes para o Brasil. (...) o nosso mercado está aberto para os produtos finais da agroindústria brasileira — frisou Alexey.
Invasão
O senador Esperidião Amin (PP-SC) afirmou que, para os brasileiros, a operação da Rússia na Ucrânia é uma invasão e vai acabar por fortalecer a Otan.
— Para nós é uma invasão, porque é no território do outro — disse o senador.
Alexey reiterou que a Rússia considera inaceitável a entrada da Ucrânia na organização militar ocidental.
O senador Chico Rodrigues (DEM-RR) quis saber do embaixador se há possibilidade de guerra entre Rússia e Otan ou se as negociações de paz vão prosperar.
— A guerra não é o melhor caminho — pontuou Chico Rodrigues.
O embaixador respondeu que não pode prever o que acontecerá daqui em diante, mas garantiu que a “operação especial” um dia terá fim.
A Comissão de Relações Exteriores (CRE) recebeu, nesta quarta-feira (6), o encarregado de negócios da Embaixada da Ucrânia no Brasil, Anatoliy Tkach, que falou sobre a situação do país com a invasão promovida pela Rússia. Os senadores da comissão avaliaram que a Ucrânia está sofrendo as consequências de uma postura expansionista de países ocidentais contra a Rússia.
A presidente da CRE, senadora Kátia Abreu (PP-TO), destacou o crescimento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança político-militar que inclui os Estados Unidos e a Europa Ocidental. Para Kátia Abreu, a adesão à Otan de países vizinhos colocou pressão sobre a Rússia, que reagiu de modo injustificável. A senadora lamentou que a Ucrânia seja “bucha de canhão” desse conflito geopolítico.
— É um cerco. A Otan avança instigando onça com vara curta. Será que isso é querer paz? Mas a Rússia perdeu todo o argumento quando deu o primeiro tiro. Não há inocentes nessa história, só a Ucrânia — afirmou.
O senador Esperidião Amin (PP-SC) também criticou a posição da Otan e pediu fortalecimento do papel da Organização das Nações Unidas (ONU) na resolução do conflito. Amin congratulou o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, que cobrou atuação do Conselho de Segurança da ONU. Ao mesmo tempo, rebateu uma afirmação de Anatoliy Tkach, que disse que a Otan tem como principal objetivo defender seus membros.
— A Otan não é um organismo defensivo. É para atacar, ameaçar e fazer guerra. Ela usa os outros países. Tem sede na indústria armamentista. Quanto mais Otan, menos ONU — argumentou.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) lembrou que a Otan foi criada no início da Guerra Fria, quando o mundo se polarizou entre as zonas de influência dos Estados Unidos e da União Soviética, e questionou o motivo de a aliança ainda existir se a configuração global se alterou.
— Me parece anacrônica a existência da própria Otan. Não tem sentido a existência de um tratado bélico-militar baseado na Guerra Fria. Temos uma nova dinâmica. A geopolítica da II Guerra Mundial já foi superada — afirmou.
Tkach afirmou que a Ucrânia tinha intenção de se juntar à Otan desde 2008 e que a maioria da população é favorável a isso, mas que não há nenhuma perspectiva de que aconteça. Ele explicou que o país quer que um tratado internacional entre os países do Conselho de Segurança garanta a segurança do território ucraniano, e que as tropas russas recuem para as posições que ocupavam antes da invasão.
Crise humanitária
Anatoliy Tkach afirmou que o principal objetivo da invasão russa é o “extermínio” da nação, da cultura, da história e da identidade dos ucranianos. Segundo ele, a Rússia apresentou ao mundo pretextos falsos, mas a intenção real era a instalação em Kiev de um governo “leal” a Moscou.
O diplomata disse que há mais de 4 mil denúncias de crimes de guerra por parte do exército russo, e que mais de 40 países já apoiam uma ação no Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade. Tkach relatou a situação dos ucranianos que vivem nas áreas invadidas, bem como dos refugiados.
— A situação humanitária continua a se deteriorar. Os alvos de ataques são jardins de infância, escolas, postos de combustíveis e hospitais. Quase 7 mil edifícios residenciais já foram destruídos. As perdas civis [da Ucrânia] superam as militares. 13 milhões de ucranianos precisam de assistência humanitária. Como [os russos] não conseguiram a vitória, adotaram o terrorismo — informou.
Os senadores manifestaram solidariedade com a população ucraniana e defenderam que o Brasil adote uma posição clara de condenação às agressões. Randolfe Rodrigues responsabilizou o presidente russo, Vladimir Putin, por “genocídio” e disse que o país é uma ditadura.
— As cenas que temos visto são provas de que Putin se equipara aos piores criminosos de guerra da história — afirmou.
O emissário ucraniano disse, ainda, que o exército russo está se reagrupando para novas ofensivas, e que há mobilização de recrutamento na Rússia.
Economia
Os senadores Kátia Abreu e Esperidião Amin manifestaram preocupação com os impactos econômicos da guerra para o mundo. Eles lembraram que o Brasil é um grande comprador de fertilizante russo e de trigo ucraniano. Segundo Kátia, a produção agropecuária brasileira pode cair em 50% sem o acesso a esses insumos, o que teria reflexos globais.
Tkach comentou que a guerra já derrubou o PIB ucraniano em 35% e que estimativas apontam um prejuízo de 10 bilhões de dólares no primeiro mês da guerra. Também segundo ele, as forças russas estão destruindo equipamentos agrícolas e o bloqueio dos portos ucranianos no Mar Negro tem impedido as exportações.
O Itamaraty continua negociando com o chefe do Departamento de Estado dos EUA, Anthony Blinken, uma trégua que permita a compra, por parte de empresas brasileiras, de fertilizantes do Irã. Essas negociações são necessárias porque os EUA impuseram sanções contra o Irã, e por isso as empresas brasileiras não se sentem seguras para adquirir fertilizantes iranianos — negócios com o Irã podem levar a punições por parte dos EUA a qualquer empresa que negocie uma série de produtos com essa nação asiática. Foi o que informou o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado nesta quarta-feira (6).
O acesso aos fertilizantes iranianos pode ser uma via para que o Brasil não dependa do fornecimento de fertilizantes da Rússia, país responsável por quase um terço das importações brasileiras desse insumo. Isso porque a guerra da Rússia contra a Ucrânia limitou essas importações e o país governado por Vladimir Putin passou a sofrer sanções do Ocidente. Por outro lado, conforme ressaltou Carlos França, o Irã possui um grande estoque de fertilizantes e tem a intenção de vender esse insumo para o Brasil.
— No Irã há um grande excedente de fertilizantes, mas os importadores brasileiros têm dificuldades para negociar. Na prática, o que fazemos com o Irã é um escambo, porque depositamos os recursos numa conta no Brasil, que é usada pelo Irã na compra de insumos médicos e alimentos. Por isso negocio com os Estados Unidos uma trégua temporária nesse embargo, para que empresas brasileiras possam negociar com o Irã sem sofrer represálias dos Estados Unidos. Os fertilizantes iranianos inclusive facilitam às empresas brasileiras atender melhor os mercados europeus e o dos próprios Estados Unidos. Vocês se lembram que há alguns anos até a Petrobras temeu abastecer um cargueiro iraniano atracado em Santa Catarina devido à possibilidade de represálias norte-americanas — disse o chanceler.
A presidente da CRE, senador Kátia Abreu (PP-TO), disse que é "um absurdo" o Brasil, nas condições que possui, ter dependência externa de fertilizantes.
— É impressionante a hipocrisia aqui em torno dos fertilizantes. Temos água, solo, temperatura e tecnologia de ponta, mas não podemos produzir fertilizantes. Impomos uma insegurança alimentar monstruosa a nós mesmos ao não termos o principal insumo, que é jogar tudo na terra com a tecnologia que possuímos, mas sem fertilizantes. O ambientalismo é chave para o Brasil, mas desconsiderar a autonomia nos fertilizantes é complicado. Sem comida não se vive, não podemos fingir que nada está ocorrendo — protestou a senadora.
Por iniciativa de Kátia Abreu, a CRE realizará uma audiência pública em breve sobre a questão dos fertilizantes, buscando reunir representantes do governo e da sociedade civil. Ao responder à senadora, Carlos França destacou que, além de abrir a janela de negociações com o Irã, o Brasil também vem negociando a compra de excedentes de fertilizantes do Canadá, da Nigéria e do Marrocos.
Relações com a Venezuela
Durante a audiência na CRE, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) pediu ao Itamaraty a normalização das relações com a Venezuela. Ele disse que seu estado, Roraima, historicamente possui relações comerciais sólidas com a nação vizinha. Mas essas relações foram prejudicadas nos últimos anos, já que o Brasil não reconhece a reeleição de Nicolas Maduro como presidente daquele país. De acordo com o senador, hoje a embaixada brasileira em Caracas "na prática não funciona; precisa ser reaberta". Chico Rodrigues afirmou que até mesmo os EUA estudam voltar a permitir a compra de petróleo venezuelano, enquanto o Brasil não sinaliza flexibilizar sua posição.
Em sua resposta, Carlos França também mencionou uma possível flexibilização por parte dos EUA. Mas o Brasil continua impondo condições para normalizar suas relações com a Venezuela.
— Podemos repensar a normalização diplomática também. Mas o governo Maduro precisa sinalizar que lá haverá liberdade de imprensa, que os presos políticos serão libertados e que a Venezuela voltará a ser uma democracia. Sem isso, fica muito complicado — declarou o chanceler.