Em 1947, durante uma reunião realizada na Organização das Nações
Unidas (ONU) para discutir a criação de um plano de partilha da
Palestina entre judeus e árabes, o rabino Yosef Tzvi Dushinsku declarou a
toda assembleia que o sionismo - movimento político ideológico criado
no início do século passado que defende a existência de um Estado
judaico - não representava os seguidores do judaísmo, portanto não
concordavam com a criação de um Estado-nação para si.
Dushinsku, judeu de origem húngara, vivia na Palestina com sua
família desde 1930 e foi considerado um dos mais proeminentes rabinos
ortodoxos da região. Ele veio a falecer logo após a fundação do Estado
de Israel, que ocorreu em 14 de maio de 1948.
Desde a segunda semana de novembro os conflitos entre Israel e
Palestina se intensificaram após um ataque surpresa do exército
israelense que culminou na morte de Ezzedin al Qasam, um dos líderes
militares do Hamas, partido que governa a Faixa de Gaza, um dos poucos
territórios que sobraram para os palestinos, desde a criação do Estado
de Israel.
Segundo informações da ONU, até a última quinta-feira (21), a
ofensiva aérea de Israel contra a Faixa de Gaza tinha sido responsável
pela morte de 140 pessoas, além de 950 feridos, na maioria civis. Já o
número de mortes no lado israelense, atacado por foguetes lançados
contra os judeus, somava 13.
A ação do governo de Israel resultou em diversos protestos de judeus,
de dentro do próprio país, contrários à ofensiva militar do Estado.
Entretanto, chama a atenção da comunidade internacional o número de
fotos e vídeos compartilhados nas redes sociais de judeus ortodoxos
defendendo o fim do Estado de Israel. O vídeo mais famoso mostra o
depoimento do jovem Dovid Weiss membro do grupo Neturei Karta (do
aramaico "guardiões da cidade"), criado em 1937, a partir de um racha do
grupo Agudas Yisroel, fundado em 1912, com o objetivo de combater o
sionismo.
No vídeo Weiss cita frases impensáveis para quem sempre acreditou que
o conflito histórico entre judeus e palestinos tivesse bases
religiosas.
“Todos os rabinos que viveram no velho Estado de Jerusalém, antes de
1948, podem lhes dizer como viviam e coexistiam pacificamente com seus
vizinhos árabes, como tomavam conta das crianças, uns dos outros,
durante o Yann Kippur [mês considerado sagrado no calendário judeu]”.
Weiss denuncia também que judeus ortodoxos antissionistas que vivem
em Israel sofrem constantemente repreensões ou espancamentos. Eles são
chamados por judeus favoráveis a constituição do Estado na Palestina de
“antissemitas”. Semita é um termo que, usualmente, refere-se aos judeus,
apesar de designar os povos originários de uma mesma língua na região
do Oriente Médio, e isso inclui hebreus (judeus) e árabes.
A organização Neturei Karta mantem um site (http://www.nkusa.org)
onde tenta desmontar a imagem que o mundo tem da criação de Israel como
Estado. Segundo a organização, a religião judaica vem sendo deturpada
pelo sionismo. Numa carta entregue aos Palestinos da Faixa de Gaza, em
julho de 2009, escrita pelo braço norte-americano do movimento, eles
lamentam a existência do Estado de Israel.
“Os judeus verdadeiros são contra a desapropriação dos árabes de suas
terras e casas. De acordo com a Torá [livro sagrado na religião
judaica], a terra deve ser devolvida a vocês [Palestinos]”.
Essa linha religiosa dos Neturei Karta, que diz seguir rigorosamente
os ensinamentos do judaísmo, aponta que hoje os judeus não tem direito
de ocupar em massa a “Terra Santa”, localizada na Palestina. Isso
decorre de uma crença religiosa que os impedem de ter domínio sobre
qualquer território, mas que os orientam a viver pacificamente nos
países onde tiverem que viver. A criação do Estado de Israel, descrita
nos livros sagrados, na verdade, é retratada como um evento divino, e
não tem nada a ver com o mundo material, de um Estado criado através das
mãos humanas.
“[Os sionistas] têm usado a Torá para legitimar seu roubo, alegando
que eles têm direito à terra, mandando para fora os palestinos,
enquanto, na verdade, a Torá proíbe explicitamente isso. Ainda mais
audazes alegam que [a Palestina] era uma terra sem povo para um povo sem
terra. Deveriam parar de dizer isso, porque naqueles dias não existia a
cobertura suficiente dos meios de comunicação imparciais, e contavam
com o apoio das potências ocidentais”, destacam na carta aberta aos
palestinos da Faixa de Gaza.
Segundo Weiss, o Estado de Israel cria inimigos, como o presidente do
Irã, Mahmud Ahmadinejad, para justificar ataques e a criação de
exércitos para proteger os judeus em Israel. “Mas nós não queremos
inimigos. Sempre vivemos em paz com os muçulmanos”, completou.
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