A entrada silenciosa do Vice-Presidente e ministro para o Poder Popular das Comunas e Desenvolvimento Social, Elías Jaua, no Brasil, causou mal-estar no governo brasileiro. Apesar de ter chegado a São Paulo por motivos particulares – a doença de sua esposa, que foi operada no hospital Sírio-Libanês – e não estar em missão oficial, seria de praxe um aviso ao Itamaraty, o que não foi feito.
Não há uma obrigação de avisar o governo local da visita de um ministro. Mas, nos meios diplomáticos, esse procedimento é visto como uma cortesia e, também, uma questão de segurança. Um aviso à embaixada ou ao Ministério das Relações Exteriores pode evitar constrangimentos, como uma revista da Receita Federal ou questionamentos pela Polícia Federal.
“Há uma série de inconvenientes que poderiam ter sido evitados se tivesse sido avisado”, diz uma fonte do Itamaraty.
O Itamaraty ficou sabendo da presença do ministro venezuelano pouco antes dos jornais, ao ser informado pelo sistema de segurança na PF nos aeroportos de que o ministro estava no País.
Até agora, não houve qualquer contato da embaixada da Venezuela no Brasil nem do governo venezuelano. Ao contrário, a delegação do país nega que haja alguma comitiva da Venezuela no Brasil.
Tampouco o governo brasileiro tomou a iniciativa de fazer qualquer tipo de reclamação – a avaliação é de que não é para tanto, apesar dos constrangimentos causados pela prisão da babá dos filhos do ministro, que tentou entrar no Brasil, aparentemente sem saber, com uma arma em uma bagagem de mão.
Ainda assim, diplomatas afirmam que o assunto deve ser tratado em “eventuais conversas” em algum futuro encontro entre o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, e seu colega venezuelano, Rafael Ramírez. Não em tom de reclamação, mas uma “sugestão amigável”. Os dois devem se encontrar este final de semana, em Cartagena, durante a reunião Mercosul-Aliança do Pacífico.
Tudo que o Itamaraty sabe até agora é que Jaua veio ao Brasil para acompanhar a mulher em exames que seriam feitos no Sírio-Libanês. Ao chegar a São Paulo, no entanto, a avaliação foi de que ela teria de ser operada imediatamente.
O ministro teria decidido, então, trazer a sogra, os filhos e a babá das crianças. Ao entrar no País com uma maleta do ministro, Jeanette del Carmen Anza terminou presa por trazer junto a documentos uma arma calibre 38 pertencente a Jaua. Solta há dois dias, vai responder a um processo por tráfico ilegal de armas.
Apesar de não estar em missão oficial no Brasil, Jaua não deixou de trabalhar, mesmo sem comunicar o governo brasileiro. Desde setembro responsável pela relação do governo de Nicolás Maduro com as comunas e os movimentos populares – depois de ter deixado a Chancelaria venezuelana – o ministro assinou, há dois dias, acordos com lideranças do Movimento Sem Terra nas áreas de “treinamento, organização e conscientização do povo”.
Também esta semana foi a Curitiba, conhecer projetos de transporte público – informações que o Itamaraty diz saber pela imprensa.
O governo brasileiro não vê problemas nas atividades de Jaua, apesar de não ser uma visita oficial. Diplomatas alegam que vários ministros estrangeiros em visita ao Brasil costumam programar sua agenda e mesmo assinar acordos com organizações não-governamentais sem que essa negociação passe pelo Itamaraty.
Não há lembranças, no entanto, de ministros cumprindo agendas em nome de seus governos sem que o país anfitrião sequer seja comunicado da sua presença.
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