O escândo envolvendo a Petrobras provocou queda nas ações da empresa em todo o mundo desde março, quando a operação Lava Jato revelou os primeiros detalhes do esquema de subornos e superfaturamento dentro da estatal.
De acordo com o jornal "Folha de S.Paulo", nos Estados Unidos, 25% dos investidores institucionais (fundos de pensão, seguradoras, fundos de investimento) reduziram em ao menos um terço o número de ADRs (recibos de ações) ordinários — os mais negociados na Bolsa de Nova York— que possuíam desde o início do semestre.
Cerca de 15% dessas pessoas já venderam todos os papéis que constavam em seu portfólio. Considerando todos os fundos com ADRs da petrolífera nos EUA, 10% zeraram o número de ações desde o início de julho.
Além das investigações que acontecem dentro do Brasil, a Petrobras também é investigada pelas autoridades regulatórias americanas e processada por investidores.
Os ADRs ordinários da Petrobras acumulam desvalorização de 51% entre julho e dezembro. A gigante do gerenciamento de investimentos, Franklin Mutual, vendeu cerca de 20 milhões de ações no terceiro trimestre, 90% de todos os papéis que possuía. A T Rowe Price se desfez de mais 18 milhões no mesmo período.
Os investidores do mercado financeiro derrubaram em quase 10% nesta segunda-feira, 15, as ações da Petrobras na Bolsa de Valores, fazendo o papel chegar a um dos menores níveis dos últimos dez anos. A forte queda em um único dia foi puxada principalmente pelos acionistas estrangeiros.
A empresa prometeu que na sexta-feira divulgaria seu balanço do terceiro trimestre e não o fez. Publicou apenas um fato relevante, com alguns números de sua operação, e fez uma nova promessa: a de que fará o que for preciso para manter seu caixa e assim pagar suas dívidas sem precisar recorrer a financiamentos em 2015. “Uma boa promessa, mas difícil de ser mantida”, assim resumiu o banco Credit Suisse em relatório assinado pelos analistas Andre Sobreira e Vinicius Canheu.
“Para ganhar a confiança do investidor, a Petrobras terá que dar muitos detalhes trimestre a trimestre de que é capaz de fazer isso. Sem conversa fiada”, disseram os analistas, lembrando das tantas promessas não cumpridas pela companhia, como metas de produção não alcançadas, mudanças de fórmulas de preços da gasolina que não foram feitas, além do próprio fato de a empresa não ter publicado o balanço que havia prometido.
No começo do pregão de hoje na bolsa brasileira, as ações caíam cerca de 2% segundo Ricardo Kim, da XP Investimentos, e assim que os mercados nos Estados Unidos abriram, onde parte das ações da companhia é negociada, começou a derrocada. Na Bolsa de Nova Yor, os American Depositary Receipts (ADRs) da Petrobras foram os mais negociados e caíram 12,1%, fechando a US$ 6,08, o nível mais baixo desde março de 2003.
No Brasil, as ações preferenciais chegaram a R$ 9,18, com queda de 9,2% e atingindo a mínima desde janeiro de 2005, enquanto a ação ordinária, com direito a voto, fechou a R$ 8,52, queda de 9,94%, menor preço desde agosto de 2004. Os analistas dizem que a forte venda dos papéis se deu ainda por causa da alta do dólar ante o real, que aumenta a dívida de US$ 135 bilhões da Petrobras. Também pela intensificação do noticiário negativo para a companhia relacionado às denúncias de corrupção e ainda devido à queda dos preços do petróleo no mercado internacional. O preço do petróleo tem afetado todo o setor no mundo.
Em risco
Pelos cálculos do Goldman Sachs quase US$ 1 trilhão em projetos no setor estão em risco por causa do recuo da cotação do petróleo, segundo reportagem publicada pelo jornal britânico Financial Times. O banco Morgan Staley não descarta a possibilidade de os preços flertarem com o patamar de US$ 40, o que poderia inviabilizar novos projetos de extração em países como Estados Unidos, Canadá e Brasil. Hoje, o preço do petróleo estimado para janeiro foi negociado a US$ 55,91 o barril em Nova York e o Brent para o mesmo mês foi cotado a US$ 61,06.
As empresas do setor estão cortando custos, renegociando dívidas, reduzindo investimentos e até diminuindo seus quadros. No Brasil, a Petrobras diz que está tomando medidas para manter o caixa sem ter de recorrer a empréstimos. A empresa tem R$ 30 bilhões em dívidas vencendo em 2015 e um plano de investimentos de R$ 100 bilhões. Seu caixa em setembro era de R$ 62 bilhões.
A Petrobras precisa publicar o balanço anual até 30 de junho, que dependerá do resultado das investigações internas que estão sendo feitas. A auditoria só dará seu aval após essa apuração. Se não publicar o balanço, terá de pagar antecipadamente US$ 50 bilhões em dívidas, além das que já venceriam em 2015. O HSBC estima que a empresa ficará sem caixa no quarto trimestre de 2015.
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